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  • Foto do escritorLucas Lima

Curiosidades Históricas de Aiuruoca e região – Sul de Minas Gerais

por Elisa Marilia Prado Carneiro*


Quem passa por muitas das cidades do Sul de Minas Gerais deve pensar: que cidade tão pequena! E são mesmo, só que têm boas histórias. No início da nossa colonização não havia a divisão política dos municípios como hoje. Era uma sesmaria englobando um território gigantesco.


Começando em 1582 quando o primeiro desbravador e governador geral Francisco de Souza ordenou a 1ª Entrada em busca de metais e índios para serem escravizados.


Em 1º de março de 1582 esse grupo alcançou o Picu, em Itamonte, dando o nome de Conquista por terem vencido a brava resistência indígena. Registros mostram que já em 1601 o inglês capturado e escravizado Anthony Kininet publicou na Inglaterra o livro intitulado Itapecu, narrando a história da região de Itamonte.


As Bandeiras de colonização estiveram em Aiuruoca em 1605 em busca de ouro e em 1688 foi registrado o nome de Aiuruoca para toda essa vasta região onde hoje estão os municípios de Baependi, Aiuruoca, Bocaina e Alagoa.


E então o ouro foi descoberto pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Cunha. Era tanto que ainda hoje há bairros e ruas denominadas Ouro Fala, numa referência à abundância ¨vejam, estou aqui¨.



Os bandeirantes descobriram muito ouro na região de Aiuruoca. Diziam que as pepitas pareciam querer ser encontradas. Ilustração de Lucas Lima

Assim, em 1692, o vigário bandeirante, Padre João de Faria Fialho consolida o território de Aiuruoca.


Logo depois, em 1706, chega por aqui o taubateano João de Siqueira Afonso e funda o Arraial de Aiuruoca. Foi a mesma pessoa que fundou a cidade de Tiradentes, chamada naquela época de Ponta do Morro.


Os taubateanos fizeram mesmo história por aqui. O capitão mór Belchior Félix – neto do fundador de Taubaté Jaques Félix – inicia a urbanização com sesmarias, roças e parentes.

Não foi fácil consolidar o território uma vez que essa região era habitada por diversas tribos indígenas como os caxanangas, guanhãs, moriguites, tapuias e carijós. Bravos guerreiros que lutaram até a morte defendendo seu território. Onde hoje é a cidade de Alagoa encontrava-se a maior tribo de todas. Muitos brancos casaram-se com índias e assim perpetuaram sua altivez e bravura.


A cidade de Baependi foi fundada em 1723 e logo depois, em 1730, funda-se a cidade de Alagoa. Foi quando começaram a chegar por aqui nobres vindos do Vale do Paraíba, alguns com raízes hebraicas.


Finalmente, em 12 de fevereiro de 1724 funda-se a Comarca Judiciária de Aiuruoca já com as fazendas Pedra, Matutu, Guapiara, Cangalha, Tamanduá, Nogueiras, Campina, Coivaras, Angaí, nome dos atuais bairros rurais.


Por toda essa região construíram-se Registros de Alfândega – seus muros de pedras estão ainda hoje por todos os lados em morros e picos. Desta forma, controlava-se o ouro que saía e cobravam-se os impostos.


Se nessas andanças você encontrar pedras quadradas e altas com inscrições, pode ter certeza, são marcos geológicos de sesmarias centenários.


Agora seguem algumas curiosidades da região:


O nome Retiro dos Pedros que perdura até hoje no Município de Aiuruoca é porque seus proprietários foram 3 gerações de Pedros, ali havia um Registro de Alfândega.


O nome Gamarra (bairro rural de Baependi) veio do francês François Gamarre, um dos primeiros moradores do local.


Em Alagoa havia mesmo uma lagoa. Para que se pudesse realizar a mineração do ouro, uma pedra foi furada e a água escorreu, isso em 1744.


Ainda em Alagoa havia uma fundição de moedas falsas que eram contrabandeadas para o Rio de Janeiro. Seu proprietário Antônio Gonçalves de Carvalhos – morador do Bairro Condado - fugiu e tornou-se padre numa tentativa de evitar a prisão. E quem veio pessoalmente prendê-lo em 1735, com o governador, foi o inconfidente e advogado Claudio Manoel da Costa.


E não foi só ele que veio para esses lados. Por aqui havia um bando conhecido por ¨vira saias¨- homens que se vestiam de mulher para interceptar os carregamentos de ouro. E quem foi incumbido da tarefa de patrulhá-los foi nada mais nada menos do que o alferes Tiradentes.


Uma curiosidade que poucas pessoas sabem responder é sobre o Bairro Companhia em Alagoa. Houve mesmo a Companhia de Mineração de Aiuruoca, fundada por Franklin de Macena, geólogo italiano que em 1860 instala-se por aqui depois de ter pedido para si a Concessão da Alagoa. Foi nessa época, em 1875, que usando explosivos e maquinário inglês abriram-se túneis até hoje muito visitados. Esses túneis eram usados para captar água para a mineração. Desta forma, Companhia não tem nada a ver com religião, muito mesmo com jesuítas dos quais não há registros por essas redondezas.


Outra lenda muito difundida é sobre o Bairro Garrafão. Muitos acreditam que ainda hoje exista um garrafão de ouro enterrado numa pequena lagoa. Ledo engano. Garrafão refere-se ao formato geográfico local.


E acredite, em 1850 já havia por aqui um queijo famoso: o queijo do Garrafão com ervas finas. Não é à toa que o Município de Alagoa é reconhecido por seus queijos – o mais famoso o tipo parmesão. Esses queijos foram desenvolvidos por um grupo de cinco dinamarqueses que em 1930 foram contratados para elaborar e refinar essa rede de laticínios. O nome de um dos laticínios até hoje em operação é o Scandia – de Escandinávia. Aqui foram introduzidos também os queijos gorgonzola e prato.


Um dos fundadores de Alagoa foi o português Manoel Mendes de Carvalho, morador do Bairro Campina, por isso boa parte das famílias ainda hoje têm os sobrenomes Mendes e Carvalho. Ele foi um importante minerador.


No século 19 existiam por esses municípios 980 fazendas, outros tantos sítios e engenhos, todos registrados. Em Aiuruoca e região havia campos de experimentação agrícola com plantações de trigo, fumo de Havana, amoras e guatambus chineses. Tanto que até hoje há um bairro denominado Campo Prático.


Já no século 20 estabeleceu-se a cultura leiteira. E atualmente, o que mais recursos traz aos municípios mineiros é o turismo.


Uma última curiosidade sobre os mineiros: por que são tão fechados e desconfiados? Uma das explicações é a de que a Coroa portuguesa ¨fechou¨ Minas Gerais proibindo até a confecção de teares e livros, isolando as comunidades. Isso tudo para que apenas se dedicassem à mineração de ouro e nada mais. Foram 250 anos de isolamento.


Só para encerrar, sabe por que as mesas mineiras têm gavetas? Para esconder a comida hebraica conhecida por kosher. Sim, os mineiros carregam um DNA judeu, com muita honra.


Glossário indígena:


Aiuruoca – morada do papagaio

Baependi – clareira na mata / quem é você?

Matutu – barulho constante



Fonte: historiador e pesquisador Gilberto Furriel


* Elisa Marilia Prado Carneiro é jornalista

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